Os Meninos Engraxates
Ana dos Santos
OS MENINOS
ENGRAXATES
não usam
sapatos.
Isso é
fato!
Que nossa falta
de tato
não deixa
perceber:
a falta do
sapato
a falta do
afeto...
A graxa do
sapato
é da cor do
menino
e o brilho do
lustre
reflete em sua
face.
Enquanto lustra
o sapato
ele pensa que
não há sapatos
para calçar...
E que aquele
que está lustrando
não é o seu
número!
Não é o seu
número!
AS BABÁS DE BRANCO
As babás pretas
Cuidam bebês brancos
As babás de branco
As babás são pretas
e usam uniformes brancos
As babás de branco
Eu não brinco
com as babás de branco
A vida delas
não é brincadeira!
EU NÃO ESTOU SAMBANDO PARA TI
Eu não estou sambando pra ti!
Eu sambo porque eu quero.
Eu não estou sambando pra ti!
Eu sambo porque eu gosto.
Eu não estou sambando pra ti!
Eu sambo porque meu corpo samba
meu corpo dança
meu corpo negro!
Eu não estou sambando pra ti!
Eu sambo o ano inteiro
e principalmente
no carnaval!
Eu não estou sambando pra ti!
Eu sambo para os instrumentos.
Eu sambo de alegria
e sambo de lamento.
Eu sambo com o meu povo
meu povo em movimento.
De Àfrica para o Brasil
sambo oceano e continente
sambo lágrima e suor
sambo mar e rio
e sambo contente!
E não para ti!
MINHAS PRETAS
Deixa eu te
contar
das pretas
velhas da minha família:
minha bisavó,
minha avó, minha mãe
e no futuro,
eu!
São pretas,
crioulas, mulatas
e caboclas
também.
São velhas
enquanto jovens
e jovens
enquanto velhas.
São mulheres
fortes e frágeis
meninas e mães.
Mais corajosas
que alguns homens.
Costuram com os
fios da vida
uma rede de
teia de aranha.
Cozinham na
panela
segredos
culinários.
Benção de mãe
é proteção
contra o mal!
Beijos de amor
que nutrem as
raízes
das árvores
genealógicas.
Minha preta
velha, Mama África!
que me guia
me protege
noite e dia!
Amém!
Xxx
Poetisa, professora
de Literatura e contadora de histórias, Ana dos Santos é gaúcha de Porto
Alegre, Rio Grande do Sul. Formada em Letras pela UFRGS, participou e venceu concursos
de Poesia na universidade e recebeu a Menção Honrosa do Prêmio Lila Ripoll na
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Escreveu pequenas
crônicas no Livro da Tribo (SP) e no livro “Brazil by Night” (SP). Venceu o
Concurso Ministério da Poesia (World Art Friends) onde publicou o livro “Flor”
(Portugal). Está com poemas na Antologia Águia 2009 (AmiGos Unidos Incentivando
As ArteS), no livro Pretessência – Sopapo Poético, na Revista Gente de Palavra
e na Revista Poesia Sem Medo. Artista independente, criou o jornal digital
“Sociedade dos Poetas Vivos” e colou poemas e muros do Brasil, projeto “As
paredes têm ouvidos e sabem do nosso amor”. É mãe de Guilherme, seu melhor
poema! Blog: “Flor do Lácio”.
Que bom estar no blog Estudos Lusófonos1 Temos muito em comum na nossa Língua Mãe, tanto para o bem, quanto para o mal...Belo trabalho Leonardo!
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